Como você avalia o mercado para figurinistas?
O Mercado, não só para figurinista, como em geral está ótimo, tem muitas produções acontecendo e a tendência é aumentar. Explico porquê: em Setembro de 2011 foi sancionada a Lei 12.485/2011 conhecida como a Lei da TV paga, pela lei, todos os canais devem veicular um mínimo de 3h30 de conteúdo brasileiro semanalmente em horário nobre, sendo metade de produtora independente. Desde então a produção brasileira de conteúdo cresceu muito e, por consequência, cresceu o Mercado de trabalho para figurinistas e também para todos os profissionais que integram uma equipe de filmagem.
Segundo disse o ex diretor-presidente da Ancine, Manoel Rangel: “A Lei 12.485 viabilizou o incremento da produção independente brasileira, viabilizou a chegada dessa produção na TV paga, na TV aberta, ampliou a capacidade de investimentos do Fundo Setorial do Audiovisual, da Agência Nacional do Cinema, no desenvolvimento do setor, melhorou um conjunto de práticas das programadoras, das TVs abertas, dos nossos produtores, e é o que permite o bom momento que o setor audiovisual brasileiro está vivendo”.
O principal dessa lei é que ela faz com que os brasileiros tenham contato com a produção audiovisual brasileira e com a produção audiovisual brasileira independente. Ela intensifica a geração de emprego pelo país afora, intensifica a capacidade do Brasil se ver na tela e contribui para o conhecimento sobre a produção e cultura nacional. Além da Lei da TV Paga, em 2013 foi criada em SP a SP Cine que também fomenta as produções audiovisuais no Estado. Essas iniciativas públicas fazem com que o mercado do audi0visual esteja super aquecido e com muitas produções sendo realizadas. Para realizar essas produções o mercado precisa de mão de obra qualificada, e uma figurinista não se forma do dia pra noite, são necessários muitos anos para estar preparada para desempenhar este cargo.
Quais as grandes mudanças e exigências que você tem percebido ao longo das produções tanto para cinema, quanto para TV?
Achei a pergunta vaga, reformula ela por favor.
Quando o figurinista entra para uma produção de novela, o tempo de produção e definição do figurino é o mesmo se comparado para as produções pontuais e curtas como mini séries (avaliando a inteligência emocional? desse profissional ao receber uma produção que tem um prazo curto a entrar em gravação)? O tempo de produção do figurino é o mesmo?
Acho que dá pra melhorar essa pergunta também. Vamos tentar – produção para novelas é beeem diferente de minisséries e filmes. A novela é considerada uma obra aberta, existe uma sinopse, mas ela vai sendo escrita de acordo com a participação dos telespectadores e o figurino se adapta a isso, por exemplo, existem personagens que no começo da novela tem poucos figurinos e que, ao desenrolar da trama, roubam a cena e seu papel aumenta, então vai ter que aumentar também a quantidade de figurino. A pré-produção de novelas tem um tempo grande, geralmente uns 3 meses pelo menos antes de começar as gravações, depois mais uns meses para ir ao ar. Já series e filmes são obras fechadas com começo, meio e fim. Filmes geralmente são mais delicados no trato artístico e por isso tem mais tempo de pré-produção. Quem sofre são as series, essas tem pouquíssimo tempo de preparação.
Na criação do figurino, a figurinista tem uma certa liberdade de criar uma peça ou estilo mais específico para o personagem, ou não?
Sim a figurinista tem toda a liberdade para criar uma peça ou estilo, inclusive o trabalho maior da figurinista esta criação, ela é totalmente responsável por isso. E esse papel é bem importante porque o figurino é a comunicação direta com o espectador. Ele que vai comunicar (sem fala) se o personagem é pobre, rico, de época ou atual, alegre ou triste.
Comente algum momento da sua carreira em que o figurino do personagem gerou repercussão inesperada e como a direção da novela avalia essa repercussão?
As novelas que fiz foi como estagiária e depois assistente, não assinei nenhuma, então não tenho como responder essa questão. E até agora nenhum figurino que fiz gerou repercussão inesperada no sentido de não ser legal, só o contrário, gerou repercussão esperada, ou seja, o resultado foi muito bom. Repercussão inesperada, eu entendo por opiniões ruins sobre o figurino, pode acontecer com figurinistas que não estejam preparadas para o cargo.
As produções de época estão fortes hoje em dia, pessoalmente como você vê essa tendência e o que o profissional precisa ter de bagagem ou o que ele precisa aprofundar?
Sim, contar a história do Brasil é importante e necessário para nós. É um resgate do nosso passado e eu acho maravilhosa essa tendência. Espero que cada vez mais tenham roteiros que resgatem e apresentem para o espectador a História do Brasil. Fazer figurino de época é super difícil. A figurinista tem que ter noção aprofundada de história da moda e ainda assim pesquisar muito. Ao mesmo tempo que é um desafio, também é uma delícia fazer. Aqui no Brasil a gente enfrenta uma dificuldade bem grande pra fazer figurino de época porque não temos acervos onde se aluga essas peças, então temos que fazer tudo do zero e isso custa caro. Por exemplo, um terno para ficar realmente bom ele tem que ser feito sob medida, para fazer necessita de alfaiate, como essa mão-de-obra está cada vez mais escassa, os que ainda fazem terno sob medida cobram bem caro. Então vivemos num dilema porque geralmente as produções de séries não tem uma verba de acordo com o tamanho do projeto e temos que fazer com poucos recursos. Dá pra fazer? Conta-se uma história, conta, porém não fica visualmente bom de fato.
Porque vc criou o curso de Figurino para Cinema e TV?
Criei porque no Brasil não tem faculdade de figurino e eu já bati muito a cabeça para aprender como fazer figurino então resolvi ensinar as metodologias que fui aprendendo nesses 16 anos de profissão. Desde que comecei como estagiária de figurino na Novela O Clone, eu comecei a anotar em cadernos o que aprendia sobre figurino durante o trabalho. Figurino é um ofício, que a gente aprende com quem sabe e aprende fazendo. Não existem metodologias de trabalho, tudo é feito através do acerto e erro. Eu fui criando essas metodologias em todas as etapas do trabalho, e são várias etapas. Escrevi cada uma delas e assim surgiu o curso. Desde 2012 eu dou esse curso no Barco sempre em Julho e Janeiro. E cada vez é diferente porque aprendo muito com cada trabalho que faço e tudo que aprendo em campo influencia no curso.