A Oficina de Roteiro de Teledramaturgia Infanto-Juvenil acontece em breve por aqui, e a equipe de comunicação do b_arco conversou com os roteiristas Jaqueline Vargas e Carlos Marques para apresentar a você um pouco mais do perfil de cada um deles. Confira o nosso bate-papo:
b_arco. Quais ingredientes não devem faltar na receita de um bom roteiro de teledramaturgia infanto-juvenil?
J.V. Assim como em qualquer roteiro, não existe receita certa. O que é sempre necessário é uma boa história e uma boa condução. Como contar, é o grande barato em qualquer roteiro. No caso do infanto-juvenil, acho que elementos de identificação com o público são fundamentais. Não se pode subestimar ou superestimar o espectador dessa faixa etária. É preciso identificar como eles estão vendo o mundo e dialogando com ele. Até porque os conflitos típicos desta fase podem mudar de nome, de geração pra geração, mas são universais. O grande trabalho de quem escreve para este público é identificar, e conseguir reproduzir de forma crível, como o jovem de agora traduz esses conflitos. Então, para mim, conhecer o universo deles de verdade é o ingrediente que não pode faltar.
C.M. Como toda boa teledramaturgia, ela tem que ter comédia, romance e drama. Na teledramaturgia infanto-juvenil, a fórmula da receita é a mesma, com uma pitada a mais de fantasia.
b_arco. Quando você está escrevendo um roteiro para o público infanto-juvenil sua criança se manifesta? De quais maneiras?
J.V. Acredito que o ser humano é uma cebola cheia de camadas e, lógico, quando se escreve para o público infanto-juvenil, o jovem interior desperta. No meu caso, eu tento voltar na minha infância e adolescência e sentir como eu reagiria se ainda fosse assim. O bom de escrever para este público é que essa juventude interior existe em todos nós. Por isso, muitas obras para jovens despertam atenção de adultos. Quando você consegue tocar no ponto certo, o texto manifesta não só a sua criança, mas a de outras pessoas também, e isso é muito bacana.
C.M. Busco trazer uma memória de experiências que tive na minha infância, e automaticamente a criança que está em mim desperta, fica mais ativa. Fico mais sensível às coisas simples do cotidiano. Porque ser criança é ser simples, ser autêntico. Quando crescemos e ficamos adultos, nós adulteramos essa autenticidade, e essa simplicidade que a criança tem de ver o mundo. Hoje, uma das formas que busco de compreender o universo infantil é escutá-los de igual para igual.
b_arco. O que você gostava de assistir na TV, durante sua infância e adolescência?
J.V. Por incrível que pareça, eu não era muito ligada em TV. Mas adorava Scooby Doo ! Sempre preferi animações e filmes.
C.M. Durante a minha infância, adorava assistir: Barbapapa, Sítio do Picapau Amarelo, Vila Sésamo,Turma do Lambe-Lambe, Turma do Mickey, Caverna do Dragão, os desenhos da Disney, Corrida Maluca, Super Amigos, os desenhos da Hanna- Barbera, Domingo no Parque, Bozo, Guerra dos Sexos, Vereda Tropical, Top Model, Que Rei Sou Eu, Armação Ilimitada, TV Pirata, Chico Anysio, Os Trapalhões, Star Wars, 007, Goonies, Gremlins, Footloose, De volta para o Futuro, Indiana Jones, Tron, Trinity, os filme dos Trapalhões, O Gordo e o Magro, Charles Chaplin, Dallas, Homem do Fundo do Mar, Viagem ao Fundo do Mar, Hulk, Swat, Magnum, Batman…
b_arco. Quem era (m) seu (s) herói (s)?
J.V. Eu vi várias vezes o filme História sem fim e este foi o meu livro de cabeceira por muito tempo. O Bastian era meu ídolo. Ele salvou Fantasia e voou num dragão! Era tudo o que queria fazer com 10 anos.
C.M. Adorava o Luke Skywalker da trilogia Star Wars, o Magnum, e o Incrível Hulk. Também tinha um personagem que o ator Mario Gomes fazia na novela Vereda Tropical. O Luca, que era um jogador de futebol, e que no final da novela jogava pelo Corinthians. E, na mesma novela, tinha o Super Téo, interpretado por Marcos Frota.
b_arco. Em relação à sua infância, e também aos primeiros trabalhos que desenvolveu na área, o que mudou no perfil desse telespectador? O que eles mais querem assistir, hoje em dia?
J.V. Acho que o espectador de hoje é mais precoce. As etapas de crescimento seguem as mesmas, mas acho que a criança e o jovem de hoje são mais rápidos e imediatistas. Lógico que todas as ferramentas tecnológicas atuais conduzem o jovem para essa rapidez. Só que mesmo assim, se formos avaliar, com toda a tecnologia existente, as estórias de fantasias, magias e lendas são um sucesso. Então, acho que o jovem é jovem e deve ser tratado assim. A única diferença é como você vai contar a estória. Eles continuam querendo a fantasia, mas traduzida para a linguagem que eles usam hoje. Novamente, acredito que o escritor de infanto-juvenil deve tentar conhecer e se apropriar dessa linguagem.
C.M. O nosso telespectador infantil de hoje mudou muito em relação à minha época. Se formos abordar a questão tecnológica, o acesso à informação é muito mais rápido e a tecnologia é muito mais avançada. Na minha época, tínhamos somente TV, cinema e teatro. Hoje, temos Internet, TV a Cabo, filmes nos celulares, YouTube, jogos de vídeo game. Mas o que mais importa é ter uma boa estória, com tecnologia ou sem tecnologia, uma boa estória, sendo bem contada com os ingredientes exatos, fará com que a criança curta muito o produto que foi feito para ela assistir.
b_arco. Qual trabalho você mais gostou de fazer, desde que começou sua carreira?
J.V. Eu gostei de muitos trabalhos. Todos me ensinaram alguma coisa. Floribella, Malhação, Zapping Zone, Pop Stars, as novelas, e o próprio Sessão de Terapia. Neste último, existe uma personagem de 15 anos que é abordada de foram real (que é justamente o que sinto falta). Se eu tivesse que escolher, seria a adaptação que eu fiz para novela do meu livro Valentina. A novela ainda não saiu, mas foi muito interessante poder traduzi-la da literatura para a TV.
C.M. Todos os trabalhos que fiz como roteirista foram muito gratificantes, com grandes aprendizados, e cada um com seu respectivo mérito. Mas Carrossel está sendo um marco na minha carreira e na minha vida.
b_arco. E o que você gostaria de produzir para esse público, mas ainda não percebe espaço no mercado?
J.V. Eu gostaria muito de poder escrever algo mais sério. Vejo que muitos programas de hoje ou infantilizam muito o espectador, ou contam a estória de forma superficial. Isso pode acontecer devido ao horário do programa ou por diretriz de emissora. Então, eu sinto que falta um programa para adolescentes que realmente fale como eles são.
C.M. Gostaria de poder contar estórias sobre a nossa cultura, nossos mitos, nossas lendas para as crianças. Temos uma cultura linda e deveríamos aproveitar mais.
b_arco. Que tipo de profissional sobra e que tipo de profissional ainda falta na sua área?
J.V. É uma pergunta difícil, porque cai em um julgamento da classe. Mas acho que, em roteiro, o profissional que falta é aquele que se posiciona. O autor roteirista ainda precisa ser mais valorizado no Brasil, e isso deve começar no profissional. Como autora, realmente acredito que o roteirista deve se preparar para ter um conhecimento mais amplo da obra audiovisual, até para poder impor o seu ponto de vista na obra. O que eu vejo hoje é muita gente dizendo que escreve sem realmente ter a carpintaria pra isso.
C.M. O Brasil está crescendo cada vez mais, e hoje temos as leis de incentivo às produções nacionais em TV fechada. Emissoras de TV como a Record e o SBT já enxergam a teledramaturgia com outros olhos. A TV Cultura sempre se preocupou em trazer uma programação infantil de qualidade e educativa. A indústria do cinema para o público infantil também tem aumentado. O mercado está expandindo, e para isso precisamos ter profissionais cada vez mais capacitados para atender a esta demanda.
b_arco. Pensando na pergunta acima, em quais aspectos o curso que vão ministrar aqui pode capacitar melhor esses profissionais? E o que mais essa turma deve buscar depois de fazer o curso?
J.V. Acredito que o curso possa dar uma visão do que é esse tipo de escrita e esse público. Espero poder passar um panorama do que tem sido feito aqui e fora do Brasil para o jovem, o que fez sucesso e por quê. Principalmente, espero mostrar que existem modelos e formatos, mas que não existe receita. E que seguir moldes nem sempre garante nada. No processo criativo, não devemos ficar presos a modelos e sim soltar a mente. Escrever não é um trabalho burocrático, é um trabalho artístico. Sobre o que eles devem buscar após o curso, isso é um processo contínuo. Quem escreve, a priori, deveria ler sempre, ver o máximo possível, observar as pessoas e, claro, escrever todo dia. Faça chuva ou faça sol.
C.M. No curso, espero passar para eles um pouco da minha experiência profissional. A feitura de uma novela, do embrião até o nascimento, quando ela vai ao ar. Como escrever uma novela, já que não existe no Brasil um curso específico. Explicar técnicas de roteiro, falar do dia-a-dia de um roteirista de teledramaturgia, e sobre como se comunicar com o telespectador que assiste seu produto através da estória. Falar da importância do roteiro em qualquer tipo de produção. Espero que o curso possa abrir mentes e incentivar mais e mais estes profissionais que querem viver da arte de contar.