Celso Eduardo Leite Duvecchi (SP) é um dos quatro vencedores do Concurso NetLabTV 2013, na categoria Ficção, ele é um jovem roteirista e foi aluno do curso Núcleo de Roteiro Audiovisual II do b_arco.
O roteiro apresentado por Duvecchi neste concurso trata de uma série infantil de terror, na qual os protagonistas são todos crianças, de onze anos contextualizado no sistema educacional, sobre medicalização do processo de amadurecimento das crianças. Segundo ele, estava tocando muitas onças com a vara curta.
Ao falar de suas experiências e aprendizado com o curso que fez no b_arco, ele comentou que a ajuda dada por Aleksei Abib, professor de roteiro do b_arco, foram essenciais para a versão final que concorreu no NetLabTv.
Veja abaixo a entrevista na íntegra.
1-b_arco: Esse é o seu primeiro? Quando começou a escrever roteiro?
CD: O Terror Noturno é a primeira série que eu escrevi. Antes disso, escrevi um curta na faculdade chamado “Finada Amélia”, que conta a história de quatro amigas da terceira idade. O curta se passa nos velórios delas. É o ambiente onde elas se encontram para se despedir da amiga finada e para colocar suas conversas em dia.
Meu TCC foi um roteiro de longa metragem chamado “Fazia Frio em São Paulo”, sobre uma mãe que vai receber em casa o filho que viajou para a Europa e sumiu por 15 anos. A senhora tem de arrumar da casa e cuidar do marido com Alzheimer enquanto elabora os quinze anos de luto pelo filho que estava desaparecido.
Depois de formado eu escrevi o curta “Coisas Frágeis” que ganhou o edital de Coprodução da Prefeitura de São Paulo de 2012. É a história do Ezequiel, que decide deixar a sua família para viver com a amante. Ele tem dificuldades de se desligar do filho. Em meio a esse processo, a amante morre num acidente de carro.
Depois disso, estou desenvolvendo dois roteiros de longa metragem de ficção para o diretor Carlos Nader.
2- b_arco: É a primeira vez que você participa de um concurso nacional de roteiro, como o NetLab?
CD: Eu participei uma vez do edital de desenvolvimento de roteiro de longa da Prefeitura de São Paulo, mas não ganhei. Depois só do NetLabTv.
Mas acho a proposta do NetLabTv diferente e inovadora. Isso porque o concurso coloca no mercado o nome dos roteiristas.
Eu me formei na faculdade há dois anos e não tenho produtora. Então, a cada edital, eu colocava meu projeto debaixo do braço e batia de porta em porta das produtoras, pedindo para uma vaga para me inscrever. Em como ninguém me conhecia e nem sabia meu nome e muitas vezes não tinham tempo para ver o projeto, eu ficava fora dos editais.
Mesmo antes do resultado do NetLabTv eu recebi ligações de produtoras, querendo meus projetos para entrar no edital. Foi uma mudança e tanto.
3-b_arco: O curso de roteiro com Aleksei Abib que você fez no b_arco contribuiu para que o seu projeto fosse vencedor?
CD:O Aleksei é uma referência para mim. Uma das pessoas mais competentes e generosas que conheço na nossa área. Ainda na faculdade, ele me deu tutoria de roteiro por um semestre. É uma pessoa que sabe o que tá fazendo e sobre o que tá falando. Ele encontra as potencialidades das nossas ideias e nos ajuda a transformá-las em algo bom.
Eu havia tentado fazer esse curso do Aleksei no b_arco num outro ano já, mas já não tinha mais vagas. Esse ano eu fiquei em cima e consegui minha vaga. Desde a primeira aula começamos a conversar sobre a minha série de terror e ele sempre foi receptivo e empolgado. Além das aulas do curso, o Aleksei deu consultorias, nas quais sentou comigo e discutiu as potencialidades e os furos existentes no universo da minha série. Os conselhos e ajudas dele foram essenciais para a versão final que eu mandei para o NetLabTv.
4-b_arco: Qual era a sua expectativa, considerando que foram 1.800 inscritos?
CD: A expectativa era baixa. Mas o que a tornava baixa não era o número de inscritos e sim a ousadia da ideia. Escrevi uma série infantil de terror, na qual os protagonistas são todos crianças de onze anos. Falo sobre o sistema educacional e sobre medicalização do processo de amadurecimento das crianças. Eu estava tocando muitas onças com a vara curta. Meus amigos sempre falavam: mas e se os jurados tiverem filhos e os medicalizam?
Além disso, acho que não temos uma tradição em produtos de terror. Eu estava me arriscando mesmo. Tanto que pensei muitas vezes em mandar uma sitcom nos moldes das comédias que fazem sucesso na TV brasileira. Mas achava que minha ideia tinha um potencial. Na pior das hipóteses seria mais um edital perdido!
5-b_arco: Como foi a escolhe do tema da série? E porque o Terror?
CD: Eu li uma notícia no começo do ano sobre o uso de medicação em crianças. O Brasil é o segundo país que mais faz uso do metilfenidato, que é esse remédio utilizado para tratar o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), mas que também é utilizado para aumentar a concentração. A notícia dizia que o consumo desse medicamento tinha picos nos meses escolares. Isso ficou na minha cabeça. Tentei imaginar como uma criança entenderia essa situação. Como ela enxergaria toda a criatividade e espontaneidade morrendo, para dar lugar a um alguém mais concentrado e responsável. Não havia outra possibilidade pra mim que não o terror. Até porque não temos uma grande produção desse gênero para crianças e pré-adolescentes. E tem saído filmes ótimos como “Casa Monstro”, “Coraline” e “ParaNorman”, que não são só uma aventura, mas tem muito de terror e fizeram grande sucesso. Essa é a referência de terror que eu imaginei inicialmente para a série.
6-b_arco: E agora, qual a sua expectativa em relação ao mercado de TV?
CD: Eu estou muito otimista. Acho que ainda leva algum tempo até o mercado se adequar à Lei de TV a Cabo. Mas a necessidade de novos produtos e iniciativas como essa do NetLabTV só contribuem para fortalecer cada vez mais o mercado.
Silvia Castelo Branco
Comunicação/ b_arco