“…não existe uma tradição de dança no nosso país.”
Para a coreógrafa e diretora Júlia Abs, que vai ministrar o curso “Dança Contemporânea – Noções do Movimento” no b_arco, a arte contemporânea no Brasil é uma das linguagens em que tudo está para acontecer. Confira a entrevista!
Entrevista
1- b_arco – Porque você escolheu a dança como expressão artística?
Julia Abs – A dança é uma linguagem que evidencia o corpo. É uma linguagem que pode expor a potência que é o corpo humano. A dança atualmente adquiriu o estatuto de arte. É portanto uma linguagem com uma grande abertura para inovações e para inaugurar novas discussões na arte. Eu tenho verdadeiro amor pela arte e dança foi um acaso feliz na minha vida.
2- b_arco- Como ver a dança contemporânea no Brasil, no século XXI?
J.A. – Do ponto de vista da arte contemporânea no Brasil é uma das linguagens em que tudo está para acontecer, pois não existe uma tradição de dança no nosso país. E nesse sentido o campo de inovação e construção de uma expressividade pública para a linguagem da dança é muito aberto.
3- b_arco- Em seu curso, quais sãos as técnicas utilizadas e qual a relação delas com a arte e a estética?
J.A. – No meu curso técnicas de dança e técnicas de consciência corporal são combinadas de modo que o aluno possa se movimentar com qualidade e consciência do movimento. As técnicas de dança são a dança moderna e algumas técnicas vinculadas ao que nomeamos dança contemporânea como release technic, new dance, e algumas técnicas que envolvem movimentos mais vigorosos e explosivos que são da vertente do risco.
Já as técnicas somáticas eu misturo o sistema de duas francesas fisioterapeutas que são a Mme. Bèziers e Pirret, que é toda uma abordagem do corpo e do movimento para a reestruturação de posturas e bem estar do corpo. Outra influência é a Eutonia. Todas essas técnicas somáticas trabalham no sentido de resgatar e tornar conscientes o funcionamento e estrutura do corpo e fatores que organizam o corpo em movimento.
O aluno estará em contato com um pensamento contemporâneo sobre o corpo e a dança, a relação mais direta com a expressão será através de exercícios de composição coreográfica e investigação do movimento.
4- b_arco– Qual a função da queda para a dança contemporânea?
J.A. – A queda não é uma função na dança, é antes de tudo uma escolha de uma estética para a dança. Há uma infinidade de maneiras de se trabalhar a queda na dança. Olhando para a história da dança, a queda seria a expressão de uma ruptura violenta com o balé clássico que não usa o corpo em contato com o chão. No balé, o corpo é organizado dentro do sistema de passos somente no nível alto, ou seja, sob os pés ou nas pontas. A dança moderna rompeu com o corpo clássico problematizando sobretudo a relação com o peso e a gravidade, que estão ligados às relações do corpo com o chão.
A queda que o meu grupo Vitrola Quântica investiga envolve uma série de questões técnicas e estéticas. Em poucas palavras, está ligada à idéia de risco.
5- b_arco– O que vem a ser a práticas somáticas, e a contribuição delas para a dança?
J.A. – As práticas somáticas são pesquisas – muitas vezes científicas – sobre a organização do corpo, seu funcionamento, e as relações com o movimento, cotidiano ou expressivo e com o bem estar. Desde o início do século XX pesquisas nessa área têm sido realizadas e difundidas, são muitas linhagens e abordagens. A minha experiência se deu sobretudo com as técnicas da Coordenação Motora de Mme. Bèziers e Pirret, com a Eutonia com o método Klauss Vianna. Minha formação acadêmica teve uma forte influência dos pensamentos e práticas somáticas.
6- b_arco– Qual é o público do seu curso?
J.A. – O público do meu curso é toda pessoa que tiver interesse pela arte da dança, que queira fortalecer, alongar e trabalhar criativamente com o corpo e o movimento.
Silvia Castelo Branco- Comunicação