Tomás Rezende diretor e preparador de atores que recentemente dirigiu a peça “A hora errada” (SESC) de Lourenço Mutarelli e que em breve terá nova temporada vai ministrar o curso Ferramentas Fundamentais para o Ator de Cinema.
Nesse esse curso Rezende fará análise de cena, preparação física e emocional para que o ator atinja em seus trabalhos estados específicos e intensos. O objetivo é propiciar as ferramentas aos atores e diretores para que eles possam de uma forma independente aplica-las ao seu dia a dia em cena.
A propósito do curso trazemos a público um texto do escritor Marcelino Freire sobre a peça “A Hora errada” por ilustrar poeticamente o ator e seu oficio em relação ao texto que ele interpreta, tema do curso de Rezende. Leia o texto abaixo:
A ARTE DO ATOR
24/06/2014
por Marcelino Freire
“Um ator nunca está sozinho. Digo: não é arte assim, como a do escritor. Em seu casulo, escrevendo. O ator inscreve. É mais autor do que o autor. Inaugura, bate estaca. Ele é um operário da palavra. Sabe o que vem antes de uma frase, o que vem depois de um ataque. Antecipa a dor da dor. O ator é todo um grupo de sentimentos. A galope. Um cavalo criador. Meu Cristo! Mas por que eu estou dizendo isto? Porque desde a semana passada fiquei, assim, de cara, com um grande ator no palco. Falo de Zémanuel Piñero. Ele que interpreta Horácio na peça “A Hora Errada” (foto acima). Texto de Lourenço Mutarelli e direção precisa e afiada de Tomás Rezende. E como mente o Zémanuel. E é tudo verdade. Vêm de longe as suas pausas. O seu silêncio é antigo. Quando corporifica um homem angustiado, desempregado, combalido. Ele faz com que eu, por exemplo, o vendo em cena, me recorde do tempo, primeiro, em que vim morar em São Paulo. Uma cidade cujo sistema me agonizou. E me provocou. Um universo, esse da metrópole e o da peça, pronto para nos fazer sumir. A toda hora, tendo de resistir à máquina. Um grande ator tira forças, as mesmas que um dia eu usei, para a dura batalha. Garimpa em sua alma a alma do mundo à sua volta. Parafusa as manobras todas. A gente crê que aquele casal, protagonista, agonizante, do espetáculo, viva ali, sempiternamente à mesa, à nossa espera. Quanta grandeza! Também Magali Biff, a sua (de Zémanuel) companheira de palco, é uma dessas grandes forças da natureza. A da arte, verdadeira, que devemos louvar. E aprender a apreender. Em que ser humano devemos confiar. Vale destacar igualmente, sobremaneira, os diálogos escritos por Mutarelli. Maduros e trágicos. E, até, engraçados na medida certa. Medida na medida. Essa que só um grande ator sabe pontuar. A mim, só me resta, aqui, humildemente agradecer. E compartilhar.” Em tempo: A peça em questão esteve em cartaz no mês passado (junho) no SESC Consolação.
O texto de Marcelino foi extraído de seu blog.
O escritor Marcelino Freire faz parte da equipe de professores regulares do b_arco dede 2007, ministrando as Oficinas Literárias. Saiba mais.
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