Eu, por mim
“ Comecemos de modo jovial, para não afugentar os esquivos e indóceis voyeurs: este foi o annus horribilis da minha vida (que já não podia ser descrita como um mar de rosas). Por enquanto, claro – nunca se sabe o que a obsequiosa Mãe Natureza nos reserva, quando ainda temos reféns vulneráveis para serem imolados no seu altar azteca, e nós próprios ainda respiramos (talvez seja mais correto dizer: fungamos) e arrastamos o nosso fardo com pujante masoquismo, assobiando e a olhando para o lado, talvez limpando a baba e o ranho na manga da camisa, como quem não está nem ai por que está cagando para tudo.
Se existe algo que realmente abomino (e, confidencialmente, há muito por onde escolher), é a vitimização, uma das especialidades desta malfadada era que me calhou no bolinho da sorte do restaurante chinês infestado de baratas na cozinha e “ Ls” nas respostas dos garçons. A autocompaixão resinosa. O miasma dos queixumes de barriguinha cheia. Socorro, sou negro! Socorro, sou mulher! Socorro, sou gay! Socorro sou um ser humano! Socorro, sou eu! Partamos dêste princípio: viver dói, é mortífero e ponto final. Porém…”
A propósito do curso Oficina de Narrativas – Teoria e Prática 2 a ser ministrado por Paulo Nogueira, destacamos o trecho acima extraído do primeiro capitulo do livro O Amor é um Lugar Comum de sua autoria, e um dos oito livros escrito por ele.
Trata-se de um romance comovente e hilariante, de escrita vertiginosa e apaixonante, sobre o absurdo de quase tudo e a esperança de coisas vividas e sonhadas por quatros amigos leais.
Nessa oficina, Nogueira abordará as características literárias do romance, de sua origem e evolução, os folhetins e os e-books, destacando os aspectos essenciais da narrativa ficcional. Para ilustrar os temas abordados serão utilizados trechos de filmes de ficção. Veja mais sobre o curso aqui.
O Amor é um Lugar Comum
Ed. Intermeios- SP 2012
232PG