O Físico Gabriel Guerrer, que ministrará o curso Física Quântica: Imaginando o Invisível no b_arco, em entrevista comentou que para entender melhor a Física Quântica é necessário desenvolver o hemisfério cerebral direito, algo que a cultura ocidental de forma geral não tem favorecido.
Segundo ele, “as pesquisas mais recentes fundaram uma nova área conhecida como informação quântica. Entre seus desenvolvimentos práticos está a criptografia quântica, uma forma completamente segura de transmitir informação. Além disso, estamos na corrida para a criação do primeiro computador quântico que revolucionará a velocidade do processamento de informações.”
1. b_arco: Do que exatamente trata a Física Quântica? Quando começou a se desenvolver?
GG: Física Quântica é a teoria científica que reúne o conhecimento sobre o que podemos afirmar sobre os blocos fundamentais da realidade, como a natureza funciona no domínio do muito pequeno. É um conjunto de equações e leis matemáticas que descrevem precisamente os dados obtidos por resultados experimentais – respostas da natureza sobre seu modo operante. Embora sua construção tenha começado há mais de 100 anos (por volta de 1900), suas consequências filosóficas somente agora estão começando a ser absorvidas pela cultura de uma forma mais profunda.
2. b_arco: Do ponto de vista científico, onde ela se aplica na natureza?
GG: O grande desafio inicial esteve relacionado a descrição dos átomos. O triunfo e confirmação da teoria veio com a explicação de seus componentes e de sua estabilidade, do cálculo preciso do espectro de energia e do entendimento da diversidade da tabela periódica. A compreensão do modo como diferentes átomos se atraem e que tipos de estados ligados podem formar, compõem a base teórica da química, ramo do conhecimento com inúmeras aplicações.
Além desse, outros desenvolvimentos tecnológicos importantes são o transistor e o laser. A combinação de ambos fundamenta a maneira como nossa sociedade processa e transmite informações. As pesquisas mais recentes fundaram uma nova área conhecida como informação quântica. Entre seus desenvolvimentos práticos está a criptografia quântica, uma forma completamente segura de transmitir informação. Além disso, estamos na corrida para a criação do primeiro computador quântico que revolucionará a velocidade do processamento de informações.
3. b_arco: Qual a sua contribuição para compreensão da Natureza?
GG: Há duas formas de entender seu significado. A primeira consiste em comparar os termos das equações com as grandezas medidas pelos experimentos. Nesse ponto podemos dizer que entendemos a Física Quântica, já que as distribuições de probabilidade previstas pela maquinaria matemática se encaixam com perfeição às observações diretas da realidade. A segunda forma acontece quando olhamos para as equações e nos perguntamos: o que isso significa? Que implicações isso tem para a realidade e consequentemente para a minha experiência de estar nesse mundo?
A surpresa é que se tentamos usar nossas percepções usuais sobre a realidade para interpretar os processos, chegamos a contradições. Parece impossível entender a Física Quântica de um referencial estritamente racional. Acredito que para a entender melhor é necessário desenvolver o hemisfério cerebral direito, algo que a cultura ocidental de forma geral não tem favorecido. Nesse caso o exercício está mais ligado a revisitar algumas certezas (espaço tridimensional, causalidade, localidade) e valorizar a experiência subjetiva, algo que acredito conduzir a uma cultura mais integrada, criativa e potente.
4. b_arco: E do ponto de vista religioso, do sagrado, qual a relação?
GG: Esse é o ponto mais polêmico. Religião implica em intermediários, instituições e dogmas, então nem entra na discussão. O que se tem discutido é a relação com a espiritualidade, que podemos denotar como a experiência direta e inefável do grande mistério, a transcendência da razão. Há várias maneiras de abordar o assunto e atualmente temos dois extremos, de um lado o ceticismo materialista e de outro uma releitura do movimento new age – o misticismo quântico.
Minha pesquisa busca um meio termo na exploração das relações entre mente e matéria. Já era um importante tema para os próprios pais da teoria (Schrodinger, Heisenberg, entre outros). Atualmente vários cientistas de calibre estão preocupados com a questão: o que é a consciência e como ela entra nas contas. Para isso é necessário estender o método científico tradicional e de alguma forma incluir a experiência subjetiva. Acho interessante como a linguagem da física quântica (sua interpretação metafórica) assemelha-se a tradições filosóficas antigas e nos permite falar de uma forma mais profunda da experiência de ter uma mente. Pode ser vista como apenas uma linguagem, um novo vocabulário, uma nova lógica. Mas por outro lado, as correlações podem parecer tão sólidas, que representam por si só a conexão entre o objetivo e o subjetivo, ou, o material e o espiritual.
Nesse ponto fica em aberto para cada um sentir e desenvolver suas próprias interpretações, baseado na bagagem única de experiências individuais. A vida pode ser vista como um processo contínuo de aquisição de dados, um experimento contínuo. É importante perceber que todos nós podemos assumir uma “postura científica”, onde assumimos a responsabilidade de tentar entender o processo. Não cabe delegar essa responsabilidade exclusivamente a especialistas acadêmicos. Nessa jornada, que teorias estamos usando para falar da nossa experiência, teorias clássicas que privilegiam apenas o lado esquerdo do cérebro ou adicionamos um novo paradigma, a melhor combinação entre razão e intuição?
5. b_arco: Para participar do seu curso precisa entender de física, ou de princípios matemáticos?
GG: Não. Tento usar no mínimo possível a linguagem matemática. Dou preferência ao uso de analogias e metáforas. Para participar basta ter curiosidade no assunto e entregar-se a livre navegação no mundo das ideias.
Silvia Castelo Branco – Comunicação
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