A produtora Mariana Brasil vai ministrar no b_arco o curso de Formatação e Apresentação de Projetos Audiovisuais para TV, que acontecerá de 19 de julho a 9 de agosto. Mariana que é uma experiente produtora, nesse Curso dará uma Visão Geral das formas de financiamento e um Panorama Geral do Mercado: como ele está hoje, quem são os “players”, como está regulamentado, e quais as oportunidades diversas de financiamento. “O “boom” tecnológico que vivemos, não é só para Tv ou cinema que podemos produzir, as mídias digitais, o vídeo On Demand (Netflix, Now, etc) ampliaram as possibilidades de exibição e formatos de conteúdo. Estamos realmente num dos melhores momentos do audiovisual no Brasil”.
Leia a entrevista na íntegra
1 – Fale um pouco da sua trajetória como produtora de audiovisual?
Trabalho há mais de 20 anos na área, sempre ligada a produção, comecei na O2, depois Moviarte e outras produtoras com publicidade. Em 2005 migrei para a área de produção de conteúdo para Tv e outras mídias na Maria Bonita Filmes, de lá fui para a TV Cultura onde era gerente de produção. No nosso departamento, entre outras coisas, havia o setor de atendimento a produção independente, além de políticas públicas para os setor, escrever e fazer parte de banca julgadora de editais. Isso tudo antes da lei que abriu o mercado de produção independente para TV efetivamente. Esta formação me permitiu ver os dois lados do balcão e compreender muito melhor o trabalho da produção independente junto a uma emissora de TV. Na saída da Cultura criei um curso para passar este meu aprendizado, isso em 2012, ano da aprovação da Lei 12.485 que ampliou a demanda de trabalhos. De lá para cá mantenho uma consultoria para produtoras e canais de TV na parte de produção executiva focada nesta relação e mercado.
2 – Quais os aspectos fundamentais para se tornar um produtor independente de Tv?
Perseverança e dedicação são importantes, um projeto não começa hoje e é exibido amanhã. Mas para mim o principal é ter VISÃO do mercado e do processo, isso amplia as chances de um projeto dar certo. E não há como se ter visão sem conhecimento, produzir algo para TV do ponto de vista da produção executiva – área que faz um projeto criativo virar efetivamente um programa e ser exibido – exige diversos tipos de conhecimento, desde saber quem é quem neste mercado, como ele funciona, quais as oportunidades de financiamento, o perfil de conteúdo que se busca e seu público alvo, a importância dos contratos e registros, até conhecimento do processo de produção para negociar custos e prazos de pagamento e não quebrar por falta de fluxo de caixa. Antes era este produtor executivo quem negociava o projeto, hoje se fala do showrunner, ele é O CARA, aquele que faz esta produção executiva e vai além: ele responde pela parte criativa do projeto. Muitas vezes o argumento é dele e daí ele tem um produtor executivo na sua equipe, contrata roteiristas, diretores etc. Esta figura tem que ter MUITA visão: criativa e executiva. Tem que saber escrever um roteiro, comandar esta equipe até fechar cada máster de programa.
3- Como se dá a formação de um produtor no Mercado Audiovisual Brasileiro? E no caso da produção independente para TV?
Temos diversas possibilidades, seja para produtores executivos e showrunners. Os cursos superiores mais óbvios: Rádio e TV, mas os cursos geralmente tem foco para quem vai trabalhar dentro de canal, ou cinema, geralmente com foco em longas, documentários etc. Os cursos privilegiam o processo de produção em si e pouco tem da parte do “business” do processo. Para este mercado da produção independente para TV então, a formação é nula já que é novo. Uma produtora para TV precisa da mescla destes profissionais unindo os dois mercados e as duas formações. A turma de cinema está mais acostumada com utilização de verbas públicas e busca de patrocinadores, em compensação trabalha num “timing” diferente da turma de TV que está mais acostumada com o processo de produção de TV que geralmente tem menor custo e é mais ágil. A junção desta turma é que dá um bom caldo, os canais querem custos de produção de Tv com qualidade de produção de cinema. Quem se dá bem aqui é a turma de documentários, que geralmente mescla estas duas áreas, mas o tipo de produção é diferente no caso de ficção e animação, por exemplo. Além destes dois cursos mais óbvios tem vários outros ligados indiretamente a esta carreira e que formam bons profissionais, vejo gente com formações distintas: jornalismo, comunicação social, arquitetura, mídias digitais, direito e até contabilidade. Hoje um produtor executivo está muito ligado a área jurídica e contábil. Um showrunner mais ligado ao processo criativo, roteiro, direção e montagem. E tem muita, muita gente que se formou na pratica do mercado sem nenhum curso superior. A lacuna do conhecimento fica na parte do business mesmo e que são os aspectos fundamentais de um produtor executivo como mencionei acima, com isso muitos sabem produzir um programa, poucos sabem negociar e financiar sua obra. Esta lacuna se preenche de duas formas: prática de mercado e cursos livres, seja na parte criativa, seja na parte executiva, estes cursos saíram na frente por ter mais agilidade em preparar este conteúdo e conseguir alcançar o “timing” das demandas do mercado.
4 – Quais são as grandes novidades no mercado audiovisual independente para TV nos últimos anos e como isso tem influenciado na evolução deste mercado?
Sem dúvida a maior novidade é a implantação da Lei 12.485 a chamada “Lei das Cotas” que trouxe a abertura deste mercado. Hoje qualquer canal estrangeiro que queira exibir sua programação no Brasil e explorar nosso mercado precisa ter 3:30 de conteúdo nacional por semana, sendo metade disto com produção independente. Além disto a lei abriu a Tv a cabo para empresas de telefonia, com isso o custo de assinatura da tv a cabo baixou e consequentemente o público ampliou, trazendo um novo consumidor para este mercado: a classe C. Tem também a ampliação da quantidade de canais brasileiros nos pacotes de tv por assinatura (exigência da lei também), que cria mais oportunidades para exibir um programa, ampliando a necessidade de produções. E para ajudar a atender esta nova demanda o governo ampliou demais os valores aportados para este tipo de produção com o Fundo Setorial do Audiovisual, no mercado de TV são mais de 80 milhões para produção (entre produtoras e programadoras), fora os aportes em desenvolvimento de projetos que antes eram praticamente nulos. Com isso a parte criativa do projeto ficará muito mais estruturada e o planejamento da produção será muito maior. Além destas iniciativas temos o “boom” tecnológico que vivemos, não é só para Tv ou cinema que podemos produzir, as mídias digitais, o vídeo on demand (netflix, now etc) ampliaram as possibilidades de exibição e formatos de conteúdo. Estamos realmente num dos melhores momentos do audiovisual no Brasil.
5 – Você acha que existe uma defasagem entre o aumento da demanda por profissionais qualificados e a oferta desses profissionais no Mercado?
Sem dúvida existe. Foi como disse, o mercado é recente, muito novo mesmo, além desta entrada do mercado de Tv temos este boom de tecnologias, isso é uma revolução mundial. Temos a ampliação significativa das produções audiovisuais para Tv, produtores fazem produções não só para atender a lei 12.485, mas também porque emissoras estão mais abertas a terceirizar este tipo de produção. E não é só a TV que cresceu, o cinema e documentários também, demais! E as equipes de Tv independente se mesclam…. quero ver agora que é ano de eleição e produção de audiovisual para campanhas políticas, pode apostar que vai faltar gente! Até o preço da mão de obra está mudando.
6 – Quais os principais meios que uma produtora ou um roteirista dispõe para levar o seu projeto a ser realizado por um canal?
Primeiro tem que fazer parte do mercado. Vejo muita gente querendo produzir para Tv e nem assiste tv, não frequenta os eventos deste setor, nem sabe quem está nele. Todo empresário de qualquer setor precisa conhecer o mercado dele, manter bons relacionamentos com clientes em potencial, parceiros e fornecedores. Esta política faz parte de qualquer área. Estamos começando, mas é preciso buscar conhecimento e se inteirar. O clássico é ir atrás dos canais para tentar viabilizar uma produção ou exibição, mas é difícil eles conseguirem atender a todos, por isso criaram plataformas digitais para upload de projetos. Vejo muita reclamação de que este tipo de ferramenta pode até ajudar, mas não dá retorno efetivo aos produtores, acontece também que por outro lado escuto dos canais que eles recebem ideias e não projetos. A demanda ampliou demais, vejo os canais também amadurecendo esta relação e criando departamentos para atender a demanda. Outras formas de tentar realizar um projeto é através dos eventos da área que costumam ter rodadas de negócios. Associações do setor como a ABPITV promovem encontros frequentes com canais, editais públicos e até algumas convocatórias privadas, qualquer projeto que se encaixe na demanda pode participar. Esta ligação entre produtor e canal tem também encontrado um novo caminho: os distribuidores. Eles são bem tradicionais no mercado de cinema, mas muitos agora estão focados em fazer a relação entre produtores e canais de Tv ou mesmo VOD.
7 – Além dos incentivos do Governo por meio de financiamentos, quais são as outras formas de se produzir para o Mercado de Tv?
Se o dinheiro não é público então há que se apostar em verba direta de canais e patrocinadores. Canais vão bancar produções em que os direitos sejam deles e sim é uma forma de produzir: prestação de serviços. Mas este tipo de produção não cumpre a cota da lei. Se você produtor quer ter os direitos da obra e assim cumprir a tal cota da lei, eles não vão pagar tudo, é justo que queiram que você vá atrás do dinheiro já que o negócio é seu, e aí geralmente recorre-se a dinheiro público. Patrocinador vai dar dinheiro direto? Difícil, existem leis de incentivo fiscal federal que vão dar desconto para ele do valor investido, então porque ele pagaria direto do bolso dele? Existem diversas outras formas, nada é impossível, não tem modelo estanque, por isso digo que conhecer o mercado e as oportunidades que existem nele para financiamento de obras é importante e assim avaliar qual delas se encaixam ao perfil do seu projeto e produtora. A tal visão de negócios.
8 – O que o aluno pode esperar sobre o seu curso aqui no b_arco?
Minha intenção com o curso é justamente apresentar o mercado e com isso trazer a VISÃO GERAL. Não vou entrar em detalhes de cada uma das formas de financiamento porque são muitos detalhes e se você não vai usar aquele incentivo vira um excesso de informação e já temos muito a aprender. Vou dar o panorama geral: como ele está hoje, quem são os “players”, como está regulamentado, quais as oportunidades diversas de financiamento. Depois cada produtor pode se inteirar melhor do que achar ser de seu interesse e para os itens que não são de seu interesse hoje, este conhecimento serve para ele entender o que o mercado oferece e talvez um dia algum projeto se encaixe. Tenho certeza que após esta introdução a visão amplia as possibilidades dos produtores, a base fica mais segura e ficará muito mais fácil acompanhar as novidades que surgirem.
Alana Lial/Comunicação