O curso parte do pressuposto de que se vive uma crise de representação. Crise que é não é somente política no sentido do crescente distanciamento que há entre os gestos e as falas encontrados na vida comum e os gestos e as falas achados no parlamento ou nos gabinetes de governantes. Crise que expressa o reconhecimento, cada mais difundido, de que as maneiras com que usualmente se traduz o mundo em termos de imagens, sons, formas ou escritos não são mais capazes de compreendê-lo para que nele se possa atuar.
Diante dessa constatação, o curso terá como primeiro objetivo caracterizar essa crise de representação no âmbito das artes visuais e mapear suas implicações em termos simultaneamente artísticos e políticos. Em particular, será destacada a natureza inerentemente conflituosa das práticas de representação, as quais incluem somente algumas coisas e gentes como equivalências sensíveis de uma dada realidade, deixando outras tantas de fora.
Em seguida, o curso irá se deter na discussão de variadas respostas que artistas brasileiros contemporâneos têm dado à essa crise. Respostas que buscam, de modos diversos, explicitar a invisibilidade de certas questões e sujeitos nas representações hegemônicas do país (na arte e no âmbito mais amplo da política), refazendo-as de modo mais inclusivo. É nesse sentido que se pode falar da emergência de uma representação das sobras: uma representação daqueles que não eram antes contados nas formas dominantes de representar o país.
Entre os sujeitos não ou pouco representados na arte e na política do Brasil que esses artistas buscam expor em seus trabalhos incluem-se as populações indígenas, os encarcerados, os loucos, a população LGBTQI+, os negros, os imigrantes, os pobres. Sem constituírem um conjunto coerente de práticas, são trabalhos engajados com a ampliação do universo de coisas e gentes tomados e contados como representantes do mundo onde vivem, sem que com isso se reduzam a apenas reproduzir demandas políticas prévias. São trabalhos que, ao contrário, terminam por constituir, na sua diversidade, um léxico novo para a arte contemporânea brasileira.
Cronograma
Aula 1 – Crise de representação e representação das sobras
Aula 2 – Raça, classe e distribuição dos corpos
Aula 3 – Necrobrasiliana e a reinvenção da memória
Aula 4 – Desastres minerais e uma educação pela pedra
Aluno
Público-alvo – aberto a todos os interessados
Carga horária total – 4 encontros – 10 horas
*Este curso é oferecido na modalidade ONLINE, portanto é necessário ter acesso à internet. As aulas irão acontecer ao vivo no aplicativo ZOOM. Indicamos que o participante tenha um computador ou celular com câmera e microfone.