No dicionário Caldas Aulete, bruxa é toda “mulher que, supostamente, tem poderes mágicos, faz bruxarias e sortilégios e outras artes sobrenaturais; feiticeira”. As mais variadas sociedades e períodos históricos nos legaram suas bruxas. Misteriosas, controversas, sensuais, sábias ou perigosas, há tempos elas despertam fascínio, medo, admiração e hostilidade. Nesse percurso, foram revisitadas e revalorizadas pelos pensamentos feministas e ressignificadas pelas inúmeras vertentes do neopaganismo. Tornaram-se figuras fundamentais da cultura pop, objeto de estudo de inúmeros campos das Humanidades e fonte caudalosa de reflexão para a arte contemporânea e para o pensamento decolonial.
Nosso tempo não deixa margem para dúvidas: as bruxas estão soltas e em todos os lugares. Ao longo de três encontros, o curso apresentará um trajeto panorâmico pela sua representação visual, partindo do início da Idade Moderna nas artes plásticas europeias e finalizando nos arranjos polifônicos da contemporaneidade.
As duas primeiras décadas do século XXI foram marcadas por uma multiplicidade de obras que trouxeram a figura da bruxa para a frente da ribalta. Narrativas consagradas como O Magico de Oz e A Bela Adormecida foram reorganizadas a partir da ótica das bruxas em estrondosos sucessos de público – o musical Wicked, de 2003 e os filmes sobre Malévola (2015 e 2019). Alinhado com esta inversão, também o influente universo ficcional estabelecido pela franquia Harry Potter mostra o mundo numa perspectiva bruxa.
Ainda no campo do audiovisual, a numerosa produção vai dos recentes Love Witch (2016), A Bruxa (2016) e Suspiria (1977/2018) a uma profusão de títulos que inunda com diligência as plataformas de streaming (são exemplos Sabrina, Luna Nera, Cursed, etc).
Do lado de cá das telas, no entanto, é de 2017 a criação do WHRIN, observatório da ONU dedicado ao combate das perseguições de crianças e mulheres sob a acusação de bruxaria, que ainda ocorrem em diversas parte do mundo. Não à toa, as reverberações das seminais obras Calibã e a bruxa (2004) e Mulheres e a caça às bruxas (2019), de Silvia Federici, estão em curso inclusive neste momento na produção artística e intelectual contemporânea.
Como última evidência desta efervescência, é importante mencionar três exposições importantes – Witches & wicked bodies (2014), na Escócia, Second Sight (2019) na Australia, e Spellbound (2018/19), no Reino Unido – dedicadas às relações intelectuais e criativas entre as bruxas dos acervos museais e as tantas releituras do nosso presente. Olhar com cuidado para a história dessa representação, é, portanto, estar atento à formulação de imagens que nos circundam e informam profundamente nossa experiência ainda hoje.
Cronograma
Aula 1 – A representação das bruxas durante o período da grande perseguição: pintura e gravura dos séculos XV a XVII
A formulação do imaginário a partir de obras de Dürer, Hans Baldung, Salvatore Rosa, Agostino Veneziano e Frans Francken. A relação entre a representação das bruxas europeias e as mulheres tupinambás nas gravuras de Theodoro de Bry. Bruxas e feiticeiras no Brasil colônia.
Aula 2 – Entre a razão iluminista e a sensibilidade romântica
A pintura do final do século XVIII e do século XIX e suas versões de feiticeiras solitárias, sabás, bruxas de Macbeth, Circes e Medeias a partir da obra de Goya, Blake, Fusseli e dos pré-rafaelitas. A perseguição policial à “feitiçaria”e às práticas não-médicas de cura no Brasil.
Aula 3 – Novos olhares para antigos saberes: arte moderna e contemporânea
Magia e alquimia em Max Ernst, Gertrude Abercrombie, Remédios Varo e Leonora Carrington. A contemporaneidade: elaboração e poder em Kiki Smith, Jesse Jones, Mikala Dwyer , Georgia Horgan e Castiel Vitorino Brasileiro.
Aluno
Público-alvo: Para todos os interessados em arte, pintura, história e nos debates relacionados à representação das mulheres na história da arte.
Carga horária total – 3 encontros – 7h30m
*Não conseguiu assistir a algum dos encontros ao vivo? Sem problemas, nós enviamos a gravação da aula no dia seguinte, por email, em links pessoais e intransferíveis que ficam disponíveis por 7 dias corridos após a realização da aula ao vivo.
*Todos os cursos do b_arco oferecem certificado de aproveitamento, com detalhamento de carga horária, que são enviados por email 1 semana após o encerramento do curso.