Hoje em dia assistimos a muitas séries no streaming, mas foram as telenovelas que formaram o nosso imaginário coletivo. No ano em que o gênero completa 70 anos de história no Brasil, este curso pretende analisar como a novela espelhou, mas também serviu de ponto de partida para as principais questões sociais ao longo das décadas – a luta de classes, o machismo, o racismo, a homofobia e a transfobia. Muitos consideram a novela ultrapassada, mas sua linguagem influencia até hoje as séries brasileiras e outros projetos audiovisuais feitos para o mundo do streaming. Qual é a herança da novela no audiovisual brasileiro feito em 2021?
Desde a primeira telenovela exibida no Brasil em 1951 (Sua vida me pertence, na TV Tupi), o gênero se consagrou como o mais popular do país. Herdeiro das antigas radionovelas, criou nos brasileiros o hábito de acompanhar uma história diariamente, atraído por estrelas consagradas.
Das novelas de capa e espada e melodramas fantásticos que consagraram autores como Glória Magadan, a TV brasileira aprendeu aos poucos a criar histórias que retratassem a realidade brasileira, seus conflitos de classe – ora pela chave do drama, ora da comédia – e personagens com os quais o público podia se identificar. A partir de 1965, a TV Globo se consolidou como a grande fábrica de novelas no país, suplantando as decadentes Tupi e Excelsior.
Nos anos 80, a telenovela encontrou um auge criativo a partir dos últimos anos do regime militar e os primeiros anos de democracia. Os sistemas de censura ainda existiam mas se afrouxaram, e as novelas se permitiram abordar questões sexuais e outros temas que eram considerados uma ameaça à “família brasileira”. É quando são produzidos alguns dos mais ousados exemplares da história do gênero (Roque Santeiro, Vale Tudo, Tieta, Que Rei Sou Eu?, Guerra dos Sexos).
Um desgaste criativo do gênero, a popularização da TV por assinatura e, a partir dos anos 2010, dos serviços de streaming pela internet fizeram com que uma grande parcela de espectadores migrasse para as séries e outros formatos. Mas, num país com forte tradição noveleira, mesmo as séries produzidas por aqui incorporam em sua linguagem os fundamentos da telenovela. Este curso pretende investigar a presença da novela como um todo na cultura nacional, tal qual um DNA do qual o Brasil, ainda que tente, não consegue escapar; e como sua herança se manifesta nos novos formatos da atualidade.
Cronograma
AULA 1 – As origens da telenovela no Brasil. As primeiras novelas na TV Tupi nos anos 50. As mudanças no formato, e os diferentes gêneros testados pela TV brasileira. As grandes novelas que transformaram o gênero: Beto Rockefeller, Irmãos Coragem, Selva de Pedra, Escrava Isaura, Guerra dos Sexos, Roque Santeiro, Que Rei Sou Eu?, Pantanal. A marca social e política de alguns dos principais novelistas dos últimos 40 anos – Dias Gomes, Gilberto Braga, Lauro César Muniz.
AULA 2 – A novela como narrativa. A construção de uma história que pode durar 180 capítulos. A construção dos “ganchos” que ligam os capítulos. A diferença entre a construção dos personagens nas novelas e nas séries. A influência dos melodramas de Hollywood dos anos 50 (Nasce uma Estrela, Mildred Pierce, Palavras ao Vento). O machismo, o racismo, a homofobia, o lugar e a representação de personagens negros e LGBTs nas novelas dos últimos 20 anos. Como as questões sociais mais prementes aparecem nas séries brasileiras dos últimos anos (3%, Coisa Mais Linda, Manhãs de Setembro).
AULA 3 – As novelas e sua luta contra a censura. Estudo de caso da novela Roque Santeiro, que surgiu como peça censurada em 1965, teve sua primeira adaptação para novela totalmente censurada em 1975 e foi exibida numa nova versão com cortes mais leves em 1985. Os casos mais recentes de censura nas novelas, já no período democrático pós-1985 (Laços de Família, Duas Caras, Viver a Vida).
AULA 4 – Novelas x séries: diferenças de estrutura e linguagem. As possibilidades de construção da narrativa e criação de personagens oferecidas por cada uma. A influência da novela nas séries produzidas pelas atuais plataformas de streaming (Netflix, Amazon, Globoplay). E a influência da linguagem das séries em algumas novelas recentes (A Regra do Jogo, A Força do Querer, Amor de Mãe).
Aluno
Carga horária total: 10h – 04 encontros
Para: Interessados no gênero, estudantes de cinema, rádio e televisão, roteiristas de TV e cinema
*Não conseguiu assistir a algum dos encontros ao vivo? Sem problemas, nós enviamos a gravação da aula no dia seguinte, por email, em links pessoais e intransferíveis que ficam disponíveis por 7 dias corridos após a realização da aula ao vivo.
*Todos os cursos do b_arco oferecem certificado de aproveitamento, com detalhamento de carga horária, que são enviados por email 1 semana após o encerramento do curso.
Bibliografia selecionada:
Esther Hamburguer. O Brasil Antenado – A Sociedade da Novela. Jorge Zahar Editor, 2005.
Mauro Alencar. A Hollywood brasileira – Panorama da telenovela no Brasil. Senac Rio, 1980.
Nilson Xavier. Almanaque da telenovela brasileira. Editora Panda, 2007.
TV Globo – Novelas e minisséries. Editora Zahar, 2010.
Laura Mattos. Herói Mutilado. Roque Santeiro e os bastidores da censura à TV na ditadura. Companhia das Letras, 2019.