O curso irá discutir o processo criativo na construção de uma narrativa audiovisual.
Tendo como ponto de partida sua obra cinematográfica e a pesquisa que desenvolve sobre o tema, Hilton Lacerda propõe uma reflexão sobre os processos criativos que utiliza em seu trabalho e de que maneira outros processos podem impactar na construção de roteiros, seja de longas-metragens, séries ou documentários.
A partir de análises de casos de filmes como Amarelo Manga, Febre do Rato, Baile Perfumado, Fim de Festa, Tatuagem, Árido Movie e Chão de Estrelas, as aulas irão se debruçar sobre 5 pontos que o autor considera fundamentais para a criação de uma narrativa: princípios, ambiente, personagem, diálogo e periferia.
Os princípios como força propulsora da idealização de uma obra; o ambiente, como a percepção do espaço, e também do tempo, pode apontar caminhos e interferir da escrita; personagem, o mecanismo de pensamento em movimento e as constantes contradições; diálogo, para além da fala, a troca, o gesto, o silêncio – algo que está na mente do espectador, assim como sua compreensão; periferia, como o entorno reverbera no roteiro e o roteiro reverbera no entorno.
Diariamente o curso contará com duas horas de exposição e uma hora de diálogo a partir do tema que foi exposto, aprofundando e problematizando questões.
Cronograma
Aula 01
Exposição geral sobre a estrutura da oficina, abrindo discussão sobre os métodos, deixando clara as escolhas do autor, suas preocupações em relação aquilo que desenvolve, seja no roteiro cinematográfico, na sua experiência seriada ou de estruturas documentais.
A subversão/corrupção como prática criativa.
O processo de suas construções e de que maneira os divide: princípios, ambiente, personagem, diálogo e periferia.
Deixar clara a escolha entre uma estrutura mais linear ou mais fragmentada. Propor reflexão da experiência no aparentemente tradicional e do tradicional no aparentemente experimental.
Sobre os princípios: o que me move a escrever/pensar numa estrutura audiovisual; quando o romântico e o prático brigam.
O processo literário de Elena Ferrante em seu livro “O Ditado e a Margem” e a “conversa” entre Umberto Eco e Jean-Claude Carrière em “Não Contem Com O Fim do Livro”, além de “Diálogos” entre Borges e Osvaldo Ferrari.
Aula 02
Como, a partir de uma provocação, o autor procura entender o tempo e o espaço onde suas preocupações cabem – e elas devem caber em leituras no tempo. Talvez a leitura sobre o contemporâneo esteja escondida num tempo anterior ou posterior àquilo que queremos mostrar.
Sobre o Ambiente – de que maneira o desenho do ambiente, ou a intuição do ambiente, interfere na construção da escrita.
Entender onde a dramaturgia se insere para manipular melhor esse espaço e suas características.
Casos: A Festa da Menina Morta, Amarelo Manga, Fim de Festa, Tatuagem.
Depois de escolhidos ou recortados os temas que permeiam as atenções, entender onde essa percepção se enquadra. Como que, pronta a moldura, seguimos em busca de seu conteúdo.
Deslocamento da expectativa do tema no ambiente: onde minha construção cabe.
Falar da “descoberta” de Carlos Reichenbach e sua construção sobre as angústias de suas personagens em seu espaço.
A questão da conquista técnica que denota a dependência criativa brasileira (ou periférica). Talvez reconhecer as ferramentas possíveis consiga deixar esses resultados mais criativos. Ou apoderar-se das ferramentas com mais desenvoltura, autoralidade, independência. O cosmopolitismo periférico.
O ambiente que o autor propõe quando precisa conversar com suas ferramentas – mas claro que não está sendo guiado pelo orçamento vertical, que obriga a obra. Nada contra, mas é outra história.
Quando reconheço o ambiente, e parto de uma ideia (princípio) que me norteia, chego a uma questão básica: a compreensão do tempo e do espaço.
Aula 03
Muitas experiências que o autor teve com o cinema foram na sala de exibição. O espaço como símbolo de coletividade. Dentro desse espaço é a personagem quem leva a narrativa – o agente causador da mudança. Stanley Kubrick e Glauber Rocha: dois exemplos.
Sobre as personagens – A construção das personagens é um dos momentos mais afinados nas buscas do autor : “quando posso lançar mão do contraditório?”
A personagem é o mecanismo do pensamento em movimento, mesmo que o desejo seja desfazer a estrutura de seu pensamento.
Personagens de construção: Kika Canibal (Amarelo Manga), Clécio e Fininha (Tatuagem), Cícero e Everardo (Baixio da Bestas), Breno e Breninho (Fim de Festa), Zizo e Eneida (Febre do Rato).
O risco da leitura errada da personagem quando você não tem acesso a realização.
É necessário amar suas personagens: “Não defendo minhas éticas a partir das personagens. Elas precisam ter gordura suficiente para serem palpáveis. O caráter e a ética devem pertencer ao personagem. A estrutura da dramaturgia é quem provoca a reflexão”, diz o autor
“Costuro as personagens dentro de meus propósitos e no ambiente que pensei. E assim vou nucleando-a, desenhando, dando-lhes corpo e emprestando-lhes contradições (o mais importante é entender o que a personagem é capaz de fazer além daquilo que você crê que ela faria). A partir desse momento eu já tenho uma estrutura onde consigo “esqueletar” minha história, minha dramaturgia”, conclui.
Aula 04
Rio Quarenta Graus, de Nelson Pereira dos Santos, o recorte da cidade e sua geografia, através da forma das personagens se expressarem, foi muito relevante na formação. A partir daí abrir o leque de possibilidades de filmes que o ajudaram a ouvir o cinema. Estender a conversa para Carlos Reichenbach e a profundidade de campo dos sons, e falar sobre A Imagem Autônoma, de Evaldo Coutinho.
Sobre o diálogo – “Aparado por minhas intenções, pelo espaço e pelas personagens, penso nesse processo de locução, de fala das personagens. Interessante aprofundar a questão do diálogo – mas problematizando seu uso. O diálogo não é necessariamente a fala, mas a troca, gesto, silêncio. O diálogo está na mente do assistente, assim como sua compreensão”, reflete o autor.
Exemplo de construções de diálogos díspares e de sua conduta: Amarelo Manga, Febre do Rato, Baile Perfumado, Fim de Festa, Tatuagem, Árido Movie, Chão de Estrelas.
A literatura e o diálogo: de que maneira apropriar-se de ideias literárias para contornar pensamentos falados, emprestando-lhes banalidade.
Como externar a personagem que não domina as ferramentas para expressar o porquê de suas condutas.
O diálogo como problematizador do processo, e não sublinhador da ideia. O desenho do diálogo e as intenções da fala interessam.
O respeito e o desrespeito ao que foi escrito para ser dito: o que é passível de interferência no diálogo proposto?
Aula 05
“O que me chama atenção num filme é quando todas as questões das quais sou capaz de perceber, se comungam, se completam. E a ideia de completude não vem das articulações corretas, mas da capacidade de se articular mesmo no adverso. E essa urdidura, para mim, nasce no roteiro. Por várias questões, mas principalmente por entender que meu acesso à realização é limitado. Por isso, gosto de resolver questões no papel. Por isso tantas costuras e tantos cortes.”, reflete o autor sobre seu processo criativo.
O aprendizado do olhar a partir de seus enganos; as metodologias dos riscos e dos erros.
Sobre a periferia – Autor: “Tudo que contorna meus roteiros me interessa. Tudo é complemento. Colocando em prática as consequências de minhas escolhas e entendendo onde eles reverberam em seu entorno. O que agudiza essas escolhas. A profundidade de campo das pequenas informações.”
Vamos analisar a periferia no Tatuagem, no Fim de Festa e no Baixio das Bestas. Entender o que cabe em volta das construções narrativas e que ferramentas o autor utiliza para que passe a caber.
O aparentemente impossível pode se ajustar a partir da costura e do corte.
Roteiro e montagem: Tão próximos e tão distantes.
O que interessa em tempos de streaming e megacorporações. O império do entretenimento.
Aluno(a)
Público: O curso é para os interessados em escrita criativa e arte sequenciada, mas deixando claro que o objeto de exposição sempre será o roteiro cinematográfico.
Carga horária total – 5 encontros – 15h.
*Este curso é oferecido na modalidade ONLINE, portanto é necessário ter acesso à internet. As aulas irão acontecer AO VIVO no aplicativo ZOOM. Indicamos que o participante tenha um computador ou celular com câmera e microfone.
*Não conseguiu assistir a algum dos encontros ao vivo? Não tem problema! As gravações são disponibilizadas na área do aluno, ficando disponíveis por 1 mês após a realização da aula ao vivo.