A deusa Afrodite, para os gregos, ou Vênus, para os romanos, desfrutava de enorme popularidade no mundo antigo, ainda que mais versátil e mais cruel do que costumamos imaginar hoje. Uma das mais conhecidas e adoradas integrantes do panteão clássico, sua existência transcendeu o mundo que nela acreditava de forma religiosa e povoou, de lá pra cá, o imaginário ocidental. Sua associação ao amor e à beleza fez com que suas inúmeras versões estivessem associadas também a intensos debates filosóficos e estéticos. Seja tentando cobrir sua nudez, reclinada, nascendo das águas, lânguida com seu amante, em grandes festas ou como representação da representação, a imagem da Vênus atravessa os séculos e se transforma conforme as preocupações das sociedades que a representam se modificam. No curso, através de uma seleção pescada no oceano de imagens da deusa, faremos um percurso histórico de maneira a entender as escolhas de cada época ao caracterizá-la. Partindo do mundo antigo, o ponto de chegada são as reformulações dos artistas contemporâneas nos temas que a tradição associou à Vênus, sob a égide das contribuições dos feminismos, do pensamento decolonial e dos debates dos estudos de gênero.
Tudo que a Vênus representou ao longo do tempo – por exemplo, o poder do corpo feminino belo, o amor, o erotismo e mesmo a importância da beleza da obra de arte – foi discutido e revisto pelos atribulados séculos XX e XXI e seus profundos questionamentos. A função da obra de arte (e seu compromisso com um ideal de beleza) é um eixo central das discussões que marcam o desenvolvimento da arte moderna e contemporânea. No último século, os feminismos formularam e defenderam enormes modificações em relação à vivência e a percepção da sexualidade e do corpo das mulheres. As teorias queer tem interpelado de forma radical as categorias tradicionais de entendimento sobre o gênero e a experiência sexual humana. O pensamento decolonial tem explicitado o custo e os impactos de padrões de beleza e afetividade construídos a partir de uma perspectiva eurocêntrica e colonizadora. Apesar disso, o que se observa na prática hoje, com o cotidiano tomado pelos registros incessantes de nossa imagem, ao mesmo tempo que bombardeado massivamente pela imagem de corpos e rostos editados, é que as pressões sociais pela beleza pré-formatada e pela juventude foram elevadas a um novo patamar. Também o campo das relações afetivas permanece marcado pela violência. Falando em Brasil, tudo se acentua: estamos no país que mais realiza cirurgias plásticas e procedimentos estéticos no mundo, e também num dos campeões de feminicídio, frequentemente cometido por parceiros que não aceitam o fim de suas relações. Esse cenário torna ainda mais importante que nos debrucemos sobre as reflexões que as obras de arte podem oferecer a respeito da constituição das normas que informam a autoestima e a vida sexual e afetiva das mulheres.
Cronograma
Aula 1 – Afrodite e Vênus na Arte Antiga
Afrodite e o mundo grego antigo. Praxíteles e a Afrodite Cnídea. Vênus, o mundo romano e suas qualidades adicionais: guerra, vitória e ancestral de imperadores.
Aula 2 – Vênus e a Idade Moderna: Renascimento e Barroco
A Vênus na pintura italiana de Florença e de Veneza, a partir principalmente de Botticelli e Tiziano. A Vênus Barroca na obra de Rubens e Velásquez. Representações da Venus na obra de artistas mulheres dos séculos XVI e XVII, como Artemisia Gentileschi, Lavinia Fontana e Elisabetta Sirani.
Aula 3 – Séculos XVIII e XIX
Vênus no Antigo Regime: Watteau, Fragonard e Boucher. A Vênus, a Academia de Belas Artes francesa e seus críticos. A Vênus Africana de Cordier.
Aula 4 – Vênus e seus debates na Arte Moderna e Contemporânea
Para fechar o curso, uma reflexão sobre o substrato legado pelos outros séculos à luz da produção de artistas modernos, como Pablo Picasso e Salvador Dali, e artistas contemporâneas, como Michelangelo Pistoletto, Nan Gouldin, Cindy Sherman, Eleanor Antin, Tracey Rose e Heather Cassils.
Aluno
Público-alvo: Para todos os interessados em arte, pintura, história e nos debates relacionados à representação das mulheres na história da arte.
Carga horária total – 4 encontros – 10 horas
*Este curso é oferecido na modalidade ONLINE, portanto é necessário ter acesso à internet. As aulas irão acontecer ao vivo no aplicativo ZOOM. Indicamos que o participante tenha um computador ou celular com câmera e microfone.
*Não conseguiu assistir a algum dos encontros ao vivo? Basta solicitar a gravação da aula para nossa equipe de atendimento no email atendimento@barco.art.br ou no whatsapp (11) 98987-8011. As gravações são enviadas em links pessoais e intransferíveis, ficando disponíveis por 7 dias corridos após a realização da aula ao vivo.