Roteirista e professora de curso dedicado ao diálogo comenta a obra de Louis Malle e sua relação com a construção e importância do diálogo no audiovisual
Em outubro, a roteirista e professora Marta Nehring irá ministrar, em nossa programação online #b_arcoemcasa, o curso “Falando em Cena – a criação do Diálogo no Audiovisual”. Nas aulas, pretende apresentar os principais conceitos e ferramentas da escrita do diálogo, para aqueles que desejam aprimorar suas habilidades como escritores e roteiristas.
Em entrevista para o blog do b_arco, Marta indica o filme “Meu jantar com André”, de 1981, uma das obras selecionadas a para contribuir nas discussões do curso que começa no próximo dia 19. Confira abaixo os comentários de Marta sobre o filme:
“Quando falamos em diálogo no cinema, nas séries ou no audiovisual de forma geral, uma das maiores orientações dadas é: mostre e não diga. Mas isso não quer dizer que não deva haver diálogo. O “mostre e não diga” pressupõe que o diálogo deve cumprir uma função que some com as informações da imagem, ou seja, eles não devem ser redundantes – salvo se a proposta é ser deliberadamente reiterativo (para efeito cômico, por exemplo).”
“O que eu pretendo trabalhar neste curso é exatamente a variedade e multiplicidade de funções que o diálogo pode exercer. Há filmes fantásticos que são estruturados em cima do diálogo – filmes que não são adaptações de textos teatrais Um dos filmes que irei trabalhar no curso é “Meu jantar com André”, do francês Louis Malle. O roteiro é feito por dois dramaturgos americanos, Wallace Shawn e Andre Gregory que, fizeram um brilhante trabalho no roteiro para cinema.”
“O filme é um filme falado. Dois amigos se encontram para um jantar, você observa um deles chegando e tudo que se passa na narrativa, se passa na cabeça do espectador. Ou melhor, na cabeça dos interlocutores, no lugar de quem o espectador assimila as história narradas pelos dois amigos e faz uma imagem mental. A função do diálogo nesse filme é de gerar imagens mentais, que é o mesmo tipo de função que opera quando você conversa com um amigo que te conta um caso, descrevendo o que aconteceu”
“Mas existe neste filme de Louis Malle um elemento que só o cinema, o bom cinema, tem! Este elemento será trabalhado no curso, para compreender como o diálogo pode ser incrivelmente prolixo e ao mesmo tempo deter um elemento muito cinematográfico”.