Lei a entrevista da roteirista Josefina Trotta que irá ministrar o curso Adaptação Criativa para Cinema. Josefina fala porque optou pela adaptação de roteiro e diz em entrevista para o b_arco, que a forte tradição literária no Brasil vem inspirando o cinema e a TV, e vice-versa.

Josefina Trota começou a adaptar roteiro quando veio morar no Brasil, um dos meus primeiros trabalhos em São Paulo foi a adaptação da autobiografia de Grabriela Leite “Filha, Mãe, Avó e Puta”. Ela trabalha como roteirista profissional desde 2004. Estudou roteiro de cinema & televisão na Universidade da Califórnia, foi bolsista do Curso de Desarrollo de Proyectos Cinematográficso Iberoamericanos, e convidada pela “Script and Doc Clinic” da 57Berlinale, e seu projeto “Ao Oeste” ganhou o edital de desenvolvimento do MINC 2012. Entre seus trabalhos se destacam o roteiro original de longa-metragem “El dia trajo la oscuridad” (ganhador dos prêmios “Opera Prima 2010” do INCAA, “Melhor longa-metragem” do Work in Progress-Festival de Mar del Plata 2012 e foi selecionado para participar do Co-Production Market, Berlinale 2011.
Leia a entrevista:
1- b_arco: Sua trajetória como roteirista no Brasil tem sido a adaptação, o que lhe levou a esse processo criativo aqui, em vez da criação de histórias originais?
Desde que decidi trabalhar como roteirista, sempre escrevi historias originais. Mesmo tendo trabalhado em remakes e adaptações de séries americanas como “Married with Children” para o mercado argentino, eu nunca tinha pensado em adaptar uma obra literária para cinema até que cheguei no Brasil.
Um dos meus primeiros trabalhos em São Paulo foi a adaptação da autobiografia de Grabriela Leite “Filha, Mãe, Avó e Puta”. Depois, lhe seguiram uma historia inspirada na obra de Jean Genet, uma série de TV baseada no livro de um escritor argentino e agora estou terminando o primeiro tratamento de um longa adaptado de um conto do escritor uruguaio Felisberto Hernández.
A partir desta experiência foi que comecei pensar na adaptação como uma nova opção na busca de inspiração e de historias para contar.
2- b_arco: Na hora de escrever o roteiro o que mais diferencia da história adaptada, para uma história original?
A grande diferencia está no material. Uma historia adaptada chega com um universo próprio, uma estrutura, personagens, tramas e subtramas, e o desafio está em reorganizar esse conteúdo para que funcione no formato audiovisual.
Quando escrevemos uma história original partimos de zero. Todo esse universo tem que ser criado do nada e a presença da folha em branco torna-se mais ameaçante. Na adaptação o roteirista estabelece um dialogo com a obra original e com seu autor e assim, o processo criativo parece menos solitário.
3- b_arco: Como você seleciona uma história para adaptar, e o que mais atrai o fato ou a personagem?
Em geral, eu gosto de filmes de gênero (suspense, policial, faroeste, terror), então meu filtro na hora de encontrar uma historia tem a ver com minhas preferências. Mas, sobretudo, quando eu leio o jornal (atividade aparentemente antiquada mas imprescindível na busca de inspiração) o que mais me atrai são historias que contenham humor.
4- b_arco: Qual a recepção do mercado cinematográfico para histórias adaptadas?
Quando comecei trabalhar com adaptação, parti do estudo e análise de filmes da historia do cinema e descobri que a adaptação não é um invento de Hollywood. Hitchcock, Scorsese, Tarantino, os irmãos Cohen, Spielberg, Carpenter fizeram adaptações mas também no cinema europeu e latino americano, diretores como Tarkovski, Truffaut, Kurosawa, Chabrol, Almodóvar, Lucrecia Martel, Sokurov e Beto Brant encontraram na adaptação uma forma de inspiração.
Por outro lado, alguns autores literários, já começaram a escrever livros “film friendly” pensando na sua futura adaptação para o cinema.
Penso que, no fundo o mercado cinematográfico e televisivo procura nas historias adaptadas, historias originais. Essa é a verdadeira busca.
5- b_arco: A TV brasileira sempre fez adaptações de grandes obras nacionais, você acha que isso acontece em outros países da América Latina? No caso do Brasil você acha que é por sua forte tradição literária?
Na Argentina, a indústria audiovisual é menor comparada com México, Colômbia ou Brasil, porém a produção é mais artesanal e muitas vezes a intenção de fazer um filme surge da vontade de um diretor ou de um roteirista. A maioria dos diretores escreve suas próprias historias ou trabalha em colaboração com roteiristas e tanto no cinema como na TV, ainda prevalecem as historias originais que, mesmo comercias, são filmes ou séries de autor.
Brasil –como qualquer outro pais- tem uma forte tradição literária que historicamente vem inspirando o cinema e a TV, e vice-versa. Todas as expressões da cultura se misturam e retro alimentam constantemente. A TV e o cinema brasileiro não seriam o que são sem a influência da literatura e da musica.
Faz só quatro anos que trabalho no Brasil. Neste tempo percebi que o mercado audiovisual brasileiro tem preferência pelas adaptações. Sejam obras literárias (Cidade de Deus, Gabriela, Corações Sujos), ou historias da vida real (Lula, Dois Filhos de Francisco, Chico Xavier, Bruna Surfistinha, Carandiru, Meu nome não é Johnny), a tendência no Brasil é adaptar.
Tenho a impressão de que Brasil está em um momento em que a tendência é fazer filmes de produtor. Alguns produtores preferem investir em adaptações porque tem mais dados sobre a repercussão da historia; outros porque se identificam com a história e precisam compartilhar a descoberta.
Escrever um roteiro original parece mais arriscado; demanda um roteirista com historias próprias para contar, em um mercado onde ainda não se investe em processo criativo.
6- b_arco: Qual o perfil do público do curso que você vai ministrar no b_arco?
O curso está aberto para todas as pessoas com conhecimentos básicos de escrita de roteiro e com vontade de escrever muito !
Silvia Castelo Branco - Comunicação
04/02/13
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