Criador e roteirista de séries como Mothern (GNT), Descolados (MTV/Band), e O Negócio (HBO), atualmente, Rodrigo Castilho é responsável pela adaptação e pelo roteiro final da série de animação infantil Sítio do Picapau Amarelo, exibida pela Rede Globo e pela Cartoon Network. Em 27 de outubro, ele ministrou a Oficina de Roteiro de Animação Infantil, aqui no b_arco, e conversou com a gente sobre a ótima fase do mercado de audiovisual brasileiro. Confira:

b_arco. Quais ingredientes não devem faltar na receita de um bom roteiro de animação infantil?
R.C. Acho que ritmo, magia, humor e ação são ingredientes muito importantes para atrair a atenção do público infantil. Mas, uma vez que o público está envolvido, o que vai fazer com que ele goste do que viu e queira ver outra vez é a qualidade e a profundidade da construção dos personagens e da história.
b_arco. Quando você está escrevendo um roteiro para o público infantil, sua criança se manifesta? De quais maneiras?
R.C. Ah, sim. Sem dúvidas! E o contrário também. Escrever para o público infantil me faz relembrar, constantemente, de como o olhar que a criança tem do mundo me encanta mais do que o olhar dos adultos.
b_arco. O que você gostava de assistir na TV, durante sua infância e adolescência?
R.C. Caverna do Dragão. E depois, na adolescência, não perdia Anos Incríveis.
b_arco. Quem era o seu herói?
R.C. Marty McFly. Tive, por muito tempo, um tênis branco e vermelho igual ao que ele usava. Usei o meu até gastar. Se um dia encontrar, vou comprar outro.
b_arco. Em relação à sua infância, e também aos primeiros trabalhos que desenvolveu na área, o que mudou no perfil desse telespectador? O que eles mais querem assistir, hoje em dia?
R.C. O humor muda um pouco, o ritmo muda bastante, acho que tudo o que é externo muda de acordo com a época em que vivemos. Mas a essência continua a mesma. Acho que contamos as mesmas histórias, desde os tempos em que nos reuníamos em torno da fogueira. O que muda é a fogueira.
b_arco. E o que você gostaria de produzir para esse público, mas ainda não percebe espaço no mercado?
R.C. Tenho percebido que as obras infantis, hoje em dia, estão muito preocupadas em transmitir conhecimento às crianças. Ensinam a preservar a natureza, a cuidar da saúde e até a falar outro idioma. Mas me parece que existem poucas obras preocupadas em ajudar as crianças a se tornarem seres humanos melhores. Vejo poucas obras que ajudam as crianças a enfrentar e domar seus dragões.
b_arco. Qual trabalho você mais gostou de fazer, desde que começou sua carreira?
R.C. Gostei muito de fazer a série Mothern. Os sentimentos à flor da pele, de uma mãe em relação a seu filho, permitem tratar de muitos temas bacanas de uma maneira descontraída. E está sendo muito divertido fazer a nova temporada da animação do Sítio do Picapau Amarelo.
b_arco. Que tipo de profissional sobra e que tipo de profissional ainda falta na sua área?
R.C. Trabalho há quase uma década na produção independente. É um setor que vive um momento muito bom. Mas é ainda relativamente novo no Brasil. Costumo dizer que é ao mesmo tempo um oceano azul, cheio de oportunidades não exploradas, e um deserto, pois falta mão de obra em todas as áreas para atender à demanda já existente. E acho que, já que a matéria prima do nosso trabalho são as histórias, todos os profissionais envolvidos – do produtor ao montador – se beneficiariam em conhecer os conceitos básicos de construção de história e roteiro.

b_arco. Pensando na pergunta acima, em quais aspectos o curso que vai ministrar no b_arco pode capacitar melhor esses profissionais?
R.C. No curso, quero discutir os elementos externos e internos de uma história e falar sobre a relação íntima entre a construção do personagem e a construção da história. Além disto, uma série, seja de animação ou não, é um trabalho muito colaborativo. Por isto, quero mostrar como funciona uma sala de roteiristas. Acho que sempre devemos continuar buscando nos aperfeiçoar no que fazemos. Acredito que escrever seja um ofício como outro qualquer, que tem suas técnicas e que tem um tempo e um treinamento necessários para se dominar a arte e evoluir. Então, estou sempre buscando cursos, sites, livros ou qualquer outra coisa que promova esta troca entre pessoas que trabalham no mesmo ofício que eu. Depois de aprender algo novo, sempre gosto de voltar ao trabalho que estou fazendo para ver como posso melhorá-lo, baseado no que acabei de aprender.
