Um dos eventos mais aguardados do ano, a Balada Literária é um festival cultural cujo mote, na melhor definição de Marcelino Freire, é “celebrar a literatura sem frescura”. Marcelino é escritor, professor de escrita criativa num dos cursos mais procurados do b_arco e idealizador do evento.
Os cinco dias da Balada, hospedados em alguns dos principais espaços culturais da cidade, reúnem escritores, espetáculos teatrais e musicais, bate-papos, lançamentos de livros e outros expoentes artísticos, onde a busca por aproximar o conteúdo literário das ruas e das pessoas é componente essencial de sua estrutura.
O festival, tradicionalmente realizado em novembro, dessa vez acontece de 4 a 8 de setembro, figurando seu término no Dia Mundial da Alfabetização, em sincronia com o principal homenageado da vez: Paulo Freire.
Maior educador do país, Paulo Freire é o brasileiro mais laureado com títulos de doutor honoris causa, concedidos por 46 universidades da América e Europa. Seus livros foram traduzidos para mais de vinte línguas, sendo um deles, Psicologia do Oprimido (1968), a terceira obra do campo das ciências sociais mais citada no mundo inteiro.
Num congresso sobre alfabetização em 1975, no Irã, Paulo Freire disse que “não basta saber ler mecanicamente ‘Eva viu a uva’. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir uvas e quem lucra com esse trabalho”, e essa sua fala sintetiza o significado de ensino e aprendizagem dentro de sua filosofia educacional, que tem como objetivo ensinar o aluno a “ler o mundo” para poder transformá-lo.
Aliado ao contexto ultraconservador do cenário político nacional, não é de se estranhar que exista uma imensa rejeição à sua metodologia de educação, em contraste com as atuais práticas. Quando existe a intenção de aliar ao conhecimento a capacidade crítica, se fornece a todos os cidadãos as mesmas ferramentas de consciência – o que, numa sociedade desigual como a nossa, não é um dos maiores interesses dos grupos dominantes.
Dito isso, não poderia ser outro o homenageado da 14º Balada Literária. Ao trazer essa discussão como ponto de partida, o poder transformativo da educação é colocado em pauta e disseminado em todos os ambientes, públicos e privados, por onde a Balada atua. Esse poder de transgressão nos coloca no cerne do compromisso que, mais do que nunca, se faz necessário assumir: compreender a educação como o maior ato político de todos.