Primeiro coletivo de pintura urbana da cidade de São Paulo, o Tupinãodá surgiu em 1983 juntamente com as Diretas Já, movimento civil que explodiu nas ruas reivindicando eleições presidenciais diretas. O grupo, dissolvido em 1993, ressurge hoje como Os Tupys, quando a sociedade brasileira é novamente impelida a se levantar contra os retrocessos de um (des)governo. Junto às vozes dos povos indígenas que denunciam a explosão da violência em seus territórios, ecoa o manifesto original do coletivo:
“Você é Tupi daqui
ou Tupi de lá,
Você é Tupiniquim
ou Tupinãodá?”
Caminho Suave: Neuropaisagens é a primeira exposição encabeçada pela última formação ativa do grupo Tupinãodá, trio composto por Zé Carratu, Carlos Delfino e Ciro Cozzolino. Se o território de atuação comum entre os artistas foi a paisagem urbana, a narrativa de agora é composta por paisagens pintadas a seis mãos: bucólica, vernacular, televisiva, mal-assombrada, anamórfica e Tarsiliana.
Sobre o território comum da paisagem justapõem-se múltiplas camadas compostas por arquivos iconográficos e repertórios narrativos pessoais de cada um dos artistas – mais do que um processo de coautoria, o vibrante dessa exposição é o alcance esganiçado e reverberante da mistura de seus repertórios individuais quando articulados em conjunto.
O poeta Paulo Leminski uma vez disse que “o grafite está para o texto assim como um grito está para a voz”, e no cerne de todas as expressões gráficas urbanas desde meados do século XX, no coração da sociedade moderna, o contexto de motivação dessas manifestações invariavelmente relacionam-se como um alerta às situações sociais vigentes, necessárias de serem repensadas. A articulação através do suporte urbano é, de fato, um grito – seja por propor uma revisão de costumes, reivindicar direitos civis ou até mesmo o simbólico chamar a atenção de olhares descuidados para a transgressão que se faz necessária em contextos de autoritarismo e intolerância.
Nesse sentido, a reunião do grupo agora chamado Os Tupys eleva nosso olhar para aquilo o que também é uma das principais intenções desta exposição: em conflito ou negociação, colocar-se com toda a estridência e desconforto que a produção neurótica da união entre esses três artistas possa gerar em quem visitar à galeria.
A exposição acontece de 10 de agosto a 10 de setembro na Galeria Virgilio | b_arco, aberta para visitação de segunda à sexta, das 10h às 19h, e aos sábados, das 11h às 17h.
SERVIÇO
Abertura: Sábado, 10 de agosto, a partir das 11h
Exposição: De 10 de agosto a 10 de setembro de 2019
Endereço: Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 426
Telefone: 3062-7339
Visitação aberta ao público até 10 de setembro
Segunda a sexta das 10h às 19h
Sábado das 11h às 17h