Na próxima semana, a roteirista global Thelma Guedes estará no Centro Cultural b_arco com as aulas do Laboratório de Roteiro para TV. Acompanhe abaixo a entrevista realizada por Carol Agabiti, em que a autora fala um pouco a respeito de como é possível realizar a adaptação de um conto, além de comentar a respeito das ferramentas fundamentais para um roteirista e da importância de experimentar.
Você é formada em Letras, mas trabalha como autora de novela. O trabalho do roteirista é muito diferente do ofício do escritor?
Completamente diferente, pelo menos pra mim. A minha cabeça funciona de um jeito pra escrever roteiro e de outro pra literatura. A Thelma roteirista é uma contadora de histórias, com um planejamento e regras a seguir. A Thelma escritora de contos não precisa se prender a nenhuma regra. Claro que o planejamento na literatura deve existir, mas é de outra ordem. O roteiro revela a alma enquanto a literatura mergulha nela.
Adaptar um conto para um roteiro é: respeitar totalmente o original, recriar a história tomando o conto como inspiração ou revolucionar a proposta inicial com liberdade para criar uma nova obra?
A adaptação pode fazer essas três coisas, depende muito de como é a obra que vai ser adaptada e o projeto que o roteirista tem em mente. Por exemplo, se for um conto muito hermético, vago, com conflitos interiores e subjetivos, e o roteirista quer adaptá-lo para uma obra de grande alcance, na televisão, por exemplo, o ideal é que se procure nele o elemento menos subjetivo, uma passagem, uma cena, uma frase, um personagem, algo que você possa usar como ponto de partida para construir uma história bem estruturada. Ou se você tem um conto óbvio, aparentemente muito simples, banal, e queira fazer um filme denso, o importante é encontrar as sutilezas. Ou muitas vezes, o conto é quase uma sinopse pronta, quase o roteiro pronto para a obra que você quer escrever. Bobagem ficar inventando se ele já fornece tudo o que você precisa. Ou seja, não há fórmula pronta para se fazer a adaptação de um roteiro.
Qual seu livro de cabeceira? Qual seu filme favorito? De qual série de tv ou novela, você não perde um capítulo?
Eu não tenho um só livro de cabeceira. Tenho muitos. E vou variando. Acabei de ler “Fluam minhas lágrimas, disse o policial”, do Philip K. Dick e comecei a ler o romance “2666”, do Bolaño. Também estou lendo poemas do Antonio Cícero, que eu adoro! Filmes também eu tenho uma lista imensa de filmes preferidos. Mas vou citar três que foram fundamentais pra mim e que sempre revejo: Hiroshima, mon amour, do Alain Resnais; Blade Runner, do Ridley Scott e Convite à Viagem, do Peter del Monte (este filme eu vi numa Mostra de Cinema na década de 80 e consegui comprar em Portugal uma cópia!). Eu me viciei em algumas séries internacionais: Game of Thrones, House of Cards e recentemente fiquei doida com Downton Abbey (estou aguardando ansiosa as quintas temporadas das três). Brasileiras, amo Sessão de Terapia, dirigida pelo Selton, com texto da Jaqueline Vargas. E agora pirei com o primeiro capítulo de Dupla Identidade, da Glória Perez. Não tenho tido tempo de ver novela no momento. Mas gostei muito dos poucos capítulos que vi de Império. Novelão clássico, dos bons!
Quais são as ferramentas que um bom roteirista de TV tem que aprender a usar?
De preferência todas! Risos. Sim, pra ser bom mesmo, tem que estudar muito e o tempo todo. Tem que ler e assistir de tudo, tentando aprender sempre. Ele tem que se “equipar” ao máximo, para cada vez mais se sentir seguro. Não adianta ter uma ferramenta a mais, se não tem a outra. Não adianta ser bom dialoguista, mas não ter noção de estrutura. Mesmo que ele seja melhor numa coisa do que na outra. É justamente naquilo que ele não é tão bom que ele deve se aprimorar. Talvez a “ferramenta” mais importante é a vontade de aprender. A humildade de saber que tem sempre alguma coisa na qual ele não é bom. Algo que ele não sabe. Vontade e humildade são excelentes ferramentas!
Para finalizar: qual a importância de atividades como o Laboratório de Roteiro para aqueles que estão iniciando os estudos na área audiovisual?
Este “laboratório” será um espaço de experimentação, de pôr a mão na massa mesmo, de “brincar” de escrever um roteiro em grupo a partir de um conto. Acredito e espero que seja uma experiência importante para que o aluno que está começando a entrar no universo do roteiro, possa conhecê-lo de dentro. Como é sua mecânica, como funciona. Mas não apenas na teoria. E sem a cobrança de ter um produto final bem acabado.
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- 24 de setembro de 2014