A empresária artística Carol Condé indica leituras que foram importantes para suas reflexões sobre agenciamento de carreiras, em mais de uma década de experiência.
Apesar de ser uma profissão totalmente inserida na engrenagem do mercado artístico, audiovisual, agentes e empresários artísticos não têm uma formação específica para seguir esta carreira ou, ainda, uma regulamentação legal da profissão. No curso Intersecções Artísticas – O Ator, a Carreira e a Direção de Elenco, que acontece na próxima semana, ela e a diretora de elenco Patrícia Faria, irão trazer algumas destas análises, para pensar a construção do Elenco para uma obra audiovisual e como dialogam com os estudos da construção da carreira de um ator.
Neste post, Carol contou ao blog do b_arco onde encontrou algumas destas singularidades nas suas próprias reflexões sobre a profissão, que exerce desde 2004. À frente da Condé+ , que impulsiona artistas, projetos e ideias de forma criativa, Carol atuou profissionalmente em interlocução com alguns dos recentes sucessos do cinema nacional, como “A vida invisível de Eurídice Gusmão”, “Bacurau”, “Hebe” e outras produções. Estas e outras grandes experiências de trabalho serão compartilhadas com os participantes do curso online ao vivo, que ainda tem vagas abertas!
“A interseção que existe, que queremos demarcar no curso, é das várias atividades e bibliografias para formar uma maneira específica de fazer essa construção de um elenco e da carreira do artista. A obra audiovisual é a grande intersecção, pois é aí que nossos trabalhos (meu e da Patrícia) se encontram”, define a empresária artística. “Se fala muito que o personagem encontra o ator, o ator encontra o personagem, mas estes encontros não são por acaso”.
Frente à uma ausência de nomenclaturas e referências para compreender os diferentes sujeitos nesse mercado, Condé busca bibliografias em áreas que comentam o sistema das artes, para refletir sobre sua atuação como empresária e agente. “Não é uma bibliografia direta, pois não há uma fonte direta, não que eu tenha conhecimento pelo menos, mas são questões que me despertam interesse na pesquisa”, comenta. A lista abaixo é uma série ótima de pensamentos que ajudarão atores, agentes, produtores e interessados em geral a refletir de forma mais aprofundada sobre o que caracteriza um artista e uma obra de arte, sobre o que pode ou deve ser considerado no processo de mensurar o valor de um trabalho artístico para o nosso mercado, nos dias de hoje, porque tudo isso é muito relativo e é também de grande valia para o desenvolvimento de carreiras artísticas, confira:
“O artista e o artesão”, artigo de Mário de Andrade
Publicado em 1943 no livro O Baile das Quatro Artes, se trata inicialmente de uma aula inaugural, realizada em 1938, para o curso de História e Filosofia da Arte, da Universidade do Distrito Federal (UDF). No artigo, o autor traça as idéias de técnica pessoal e atitude estética. Em sua leitura, Carol Condé aproveitou os pensamentos sobre técnicas artísticas colocadas no texto modernista, o que é o talento e como estes conceitos se relacionam com as figuras de agente e empresário “como uma parte terceirizada de uma persona, que traz este profissionalismo para a profissão”, comenta Carol.
“Sobre o valor e o desvalor da obra de arte”, de H. J. Koellreutter
A epígrafe do texto marcou bastante a empresária em suas leituras: “Não há normas, nem fórmulas, nem regras que possam salvar uma obra de arte, na qual não vive o poder de invenção.” é uma frase que inspira a preparação de seu curso no b_arco e muitas de suas ações profissionais. “Um agente é necessário para negociar, para dar o valor e saber mensurar este valor artístico. Também serve para pensar a própria gestão de carreira”, fala Carol, sobre o texto do compositor, professor e musicólogo brasileiro de origem alemã, que traz noções interessantes de raridade e de valores de obras de arte.
“A estetização do mundo: Viver na era do capitalismo artista”, de Gilles Lipovetsky, Jean Serroy
Carol Condé recomenda especificamente os capítulos Grande Arte e arte comercial, A arte como profissão e Profissionalização e especialização das atividades artísticas desta obra em que o filósofo Gilles Lipovetsky (em parceria com o crítico de arte Jean Serroy) propõe um olhar inovador sobre a relação entre a economia liberal e a vida estética contemporânea.